A POÇÃO DO RAIZEIRO
Jeremildo
Paixão, depois de uma viuvez de cinco anos, já madurão, apaixonou-se por uma
morena bem mais jovem e, pouco tempo depois estava casado de novo. A
dificuldade era desempenhar o seu papel de marido na proporção das expectativas
da Marinalva, no fogo de seus vinte anos. Indicado por um amigo, procurou o
Chico Raizeiro, especialista em rezas, poções e garrafadas para todos os males.
- Pois é,
Seu Chico, estou precisando de um reforço para dar conta dos meus deveres de
marido. O Senhor sabe, né. O tempo vai esmorecendo a gente e conto com a sua
ajuda para voltar a ser como eu era há vinte anos atrás.
- Pode ficar
tranquilo, Seu Jeremildo. Vou preparar uma garrafada que é tiro e queda. O
Senhor vai voltar a ser um rapazinho de vinte anos. Ou menos. Pode vir aqui no
sábado porque eu preciso rezar na raizada na sexta-feira à meia noite. É nessa
hora que o caboclo baixa e a poção passa a ter efeito.
O Jeremildo
se despediu e, no dia marcado, estava na porta do raizeiro para levar a tão
esperada garrafada. Recebeu a poção, pagou a conta e começou a bebericar o
líquido na esperança de uma vida a dois mais ativa.
Uma semana
depois, retorna o Jeremildo ao raizeiro, aborrecido e queixoso:
- Olha, seu
Chico, a coisa não funcionou, não. E o pior é que estou sentindo um calor
estranho aqui nas partes do fundo. Coisa que nunca vi. Cheguei até a sonhar com
meu compadre Miguelão. Sonho mais esquisito!... Nem tenho coragem de contar. E
a patroa tá querendo até me largar por causa de meu afastamento.
O raizeiro
coçou a base da nuca, matutou por uns instantes e pediu tempo:
- Pera aí,
Seu Jeremildo, vou lá dentro verificar o que aconteceu.
Voltou com
uma garrafa na mão e, com um semblante aliviado, justificou:
- Tá aqui,
Seu Paixão, a sua garrafa. Essa que o Senhor levou eu tinha preparado para a
comadre Minervina que, já com setenta anos de vida, amigou-se com rapaz de
vinte e cinco. Fiz confusão e acabei entregando ao Senhor a garrafa preparada
para ela.
Jeremildo
agradeceu e despediu-se, levando na mão uma nova esperança engarrafada. Se
funcionou eu não sei. Pergunte lá à Marinalva.