PARAFUSOS
Conversava
com um amigo meu, o Juca, numa esquina, quando passou um conhecido dele.
Cumprimentou-o e seguiu caminho. Aguardou-se o afastamento do cidadão e veio
dele o comentário:
- Este é o
Calimério. Gente boa, mas tem um ou dois parafusos a menos.
Encerrou-se
a conversa e cada qual tomou seu rumo. Eu, de mim, vim ruminando o parecer do
amigo;
- Parafusos
a menos!... Nossa vida se resume a
parafusos, porcas, roscas e correlatos.
Veja bem. Na
infância, juventude, todos os parafusos funcionam numa pessoa saudável. Depois
de certo tempo, os parafusos das juntas se enferrujam e é aquela dificuldade
para o seu funcionamento normal. Parece que falta lubrificação, que não há quem
remedeia. A cabeça vai perdendo parafusos e deixando desprender a memória que
vai se perdendo pelos trilhos da vida. Não se conhece o amigo antigo, o parente
próximo, até mesmo uma ex-namorada, tão querida no passado.
E o pior são
os parafusos das saídas, ou quem sabe as arruelas que as protegem, quando
falham e não mais obedecem a vontade do dono: são gases expelidos em locais
impróprios, às vezes ruidosos. E outras incontinências indesejáveis que obrigam
o pobre mortal a desfilar pelas encostas da vida de fraldas geriátricas,
incomodando as adjacências. Desnecessário falar dos parafusos que erguem
determinado órgão, que também perdem a rosca deixando o seu dono imprestável
para as poesias da vida.
Deus seja
louvado! É o prenúncio do fim.
30.09.2018.