O CURANDEIRO DESAPARECIDO
Toniquinho do Pó (nada a ver com o pó
dos dias atuais) era raizeiro lá em Rola Cabaça, vilazinha socavada entre as
serras de Minas Gerais. A alcunha lhe adveio porque usava com frequência, além
de suas garrafadas, pó de fumo (rapé) misturado a alguma panaceia para tratar
de seus pacientes. Era benquisto no lugar.
Lá pelos
meados da década de setenta, a vila foi surpreendida por uma doença
desconhecida até então. Denominaram-na “entope bofe”, também nomeada “enbo 74”.
É que a mazela causava falta de ar e
aflição no cidadão por ela acometido. Toniquinho foi chamado a intervir.
Embrenhou-se nas matas do lugar e em dois dias trouxe o que seria a solução.
Alguma coisa, também em pó, que se misturou ao rapé que ele mesmo fabricava.
Torrava o fumo de Baguari na chapa do fogão, pilava bem e acrescia a ele as
suas fórmulas secretas. Começou a tratar da nova doença com sua fórmula
inovadora. O paciente cheirava o pó já preparado em frente a uma fogueira e ali
espirrava várias vezes, desobstruindo os pulmões afetados. A fogueira tinha por
objetivo destruir todo o mal expelido pela sequência de espirros.
O tratamento
funcionou a contento. Não houve maiores complicações com nenhum dos pacientes
remediado pelo Toniquinho. Ele trafegava no lugar sempre levando fumo e ainda
mais respeitado.
Vai que uma
manhã de sexta-feira trouxeram ao curandeiro o Marcolino Cachaça, moquecado não
se sabe se pela doença ou pela cana brava de que fazia uso constante. A
respiração dificultosa era, por si só, o diagnóstico do novo “entope bofe”.
Para males iguais, remédio igual.
Foi
providenciada a fogueira e arrastaram o Cachaça até as suas adjacências. A bebida exalava de seu respirar prejudicado.
Toniquinho aplicou o rapé já preparado nas ventas do Cachaça e direcionou a sua
fuça para a fogueira já bem acesa. No primeiro espirro, a consequência
drástica: uma rajada de fogo dirigiu-se em direção do Marcolino provocando uma
explosão ensurdecedora, o que levou o paciente a óbito instantaneamente. O
raizeiro assustado pegou estrada e até a presente data não se tem notícias
exatas de seu paradeiro.
O povo de
Rola Cabaça procura saber onde se encontra hoje o raizeiro do lugar em face de
mal semelhante que acomete agora o mundo todo.
Agradecem
por qualquer informação que possa indicar onde se encontra nos dias atuais.
Qualquer crime
que lhe venha a ser imputado está definitivamente prescrito.