segunda-feira, 30 de março de 2020


O CURANDEIRO DESAPARECIDO

                Toniquinho do Pó (nada a ver com o pó dos dias atuais) era raizeiro lá  em Rola Cabaça, vilazinha socavada entre as serras de Minas Gerais. A alcunha lhe adveio porque usava com frequência, além de suas garrafadas, pó de fumo (rapé) misturado a alguma panaceia para tratar de seus pacientes. Era benquisto no lugar.
            Lá pelos meados da década de setenta, a vila foi surpreendida por uma doença desconhecida até então. Denominaram-na “entope bofe”, também nomeada “enbo 74”. É que a mazela causava  falta de ar e aflição no cidadão por ela acometido. Toniquinho foi chamado a intervir. Embrenhou-se nas matas do lugar e em dois dias trouxe o que seria a solução. Alguma coisa, também em pó, que se misturou ao rapé que ele mesmo fabricava. Torrava o fumo de Baguari na chapa do fogão, pilava bem e acrescia a ele as suas fórmulas secretas. Começou a tratar da nova doença com sua fórmula inovadora. O paciente cheirava o pó já preparado em frente a uma fogueira e ali espirrava várias vezes, desobstruindo os pulmões afetados. A fogueira tinha por objetivo destruir todo o mal expelido pela sequência de espirros.
            O tratamento funcionou a contento. Não houve maiores complicações com nenhum dos pacientes remediado pelo Toniquinho. Ele trafegava no lugar sempre levando fumo e ainda mais respeitado.
            Vai que uma manhã de sexta-feira trouxeram ao curandeiro o Marcolino Cachaça, moquecado não se sabe se pela doença ou pela cana brava de que fazia uso constante. A respiração dificultosa era, por si só, o diagnóstico do novo “entope bofe”. Para males iguais, remédio igual.
            Foi providenciada a fogueira e arrastaram o Cachaça até as suas adjacências.  A bebida exalava de seu respirar prejudicado. Toniquinho aplicou o rapé já preparado nas ventas do Cachaça e direcionou a sua fuça para a fogueira já bem acesa. No primeiro espirro, a consequência drástica: uma rajada de fogo dirigiu-se em direção do Marcolino provocando uma explosão ensurdecedora, o que levou o paciente a óbito instantaneamente. O raizeiro assustado pegou estrada e até a presente data não se tem notícias exatas de seu paradeiro.
            O povo de Rola Cabaça procura saber onde se encontra hoje o raizeiro do lugar em face de mal semelhante que acomete agora o mundo todo.
            Agradecem por qualquer informação que possa indicar onde se encontra nos dias atuais.
            Qualquer crime que lhe venha a ser imputado está definitivamente prescrito.