O TROMBONE DE VARA
Floristênio
Lustosa era o único trombonista da Vila das Copaíbas. Manejava o seu
instrumento com muita competência e sensibilidade, razão de ser admirado pelo
povo do lugar. Músicos renomados que tiveram o prazer de ouvir as execuções do
Lustosa não se cansavam de enaltecer o refinado de seu sopro e a qualidade de
seu instrumento, um trombone de vara. Convém
lembrar que o trombone de vara é um instrumento de sopro cujas notas são
tiradas a partir de um alongamento ou encurtamento de seus tubos, movimentados
pelo executor. Um mês antes da quermesse, o músico andava meio aborrecido
depois de perceber um pequeno orifício numa das curvas do instrumento,
consequência de um leve amassado cujo rebordo acabou por vazar o cano em consequência
de atritos. Procurou o Serafim Caconde, especialista em soldas e remendos no
lugar. Era também um exímio artesão, especialista em lamparinas, lampiões e
correlatos. Deixou lá o seu precioso instrumento com a sensação de alívio em
entregá-lo em mãos competentes:
- Capricha
aí, Seu Caconde. Este bichinho vale ouro!
- Deixa
comigo, Seu Lustosa. Amanhã o Sr. não vai saber onde foi o furo.
No dia
combinado, volta o Floristênio para pegar o seu valioso instrumento. É recebido
até com certo entusiasmo pelo Serafim:
- Olha aí!
Ninguém vai ver onde era o furo. E também, como cortesia da casa, soldei aquele
cano que andava frouxo, correndo pra lá e pra cá. Agora está firme. Duvido que
solte outra vez.
Não se
apresentaram, ao músico, quaisquer palavras capazes de extravasar o que lhe
passava pelo peito.
