E a lama
veio. Levou as casas daquele povo simples. Levou a escola do lugar. A
igrejinha, a praça ampla e verde. Levou os sonhos daquela gente de viver e
morrer na terrinha natal, tranquila e bela. Levou o distrito de Bento
Rodrigues, com suas lembranças, seu passado longo, sua paz. Levou crianças,
jovens, pais de família, animais domésticos. Tudo. O sol e a lua nunca mais
brilharão sobre o povoado. Soterrou o que tinha de belo na natureza do lugar. A
paz daquele povo, irrecuperável. Levou a história daquela gente simples. Mas
não ficou aí. Seguiu levando abaixo outras comunidades, outras culturas.
Afetando riachos, violentando a natureza. E aí chegou ao Rio Doce. Doce rio
que, como bom mineiro, procura o mar. E lá se foi o remanso de suas curvas onde
os animais, pobres inocentes, mitigavam a sua sede. O pouso das aves aquáticas
já não é mais possível. Os peixes que por lá ainda tinham um refúgio no frescor
de suas águas jazem estirados à margem, irremediavelmente aniquilados. E o
monstro segue em direção ao mar. Lá, talvez, encontre resistência e será
vencido. Mas ainda assim deixará marcas indeléveis.
E vem o
depois. O esquecimento de nós mortais. O distrito será apagado do mapa. Os
fantasmas do lugarejo pairarão sobre a crosta seca do que foi o lamaçal. Os
parentes e amigos chorarão seus mortos. A degradação ambiental será suportada
por aqueles que vivem nas imediações do sinistro. A conta sobrará para todos
nós. Os responsáveis pela tragédia tocarão suas vidas no mesmo compasso de
antes, em suas mansões, com seus carrões importados. Estourarão champanhes
finíssimas no Natal que se avizinha.
Aqui é
assim.

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