CAMPANHA POLÍTICA
Genibaldo
Custódio andava à cata de votos para vereador em Chapadão da Jiboia. Foi
descarregado na Vila dos Carrapatos onde se armara palanque para a desova de
seu discurso. E no improviso meio
decorado constava umas frases que ouvira de um deputado e que achara propícias
para a ocasião. E assim expeliu ele o seu falatório, não sem antes chocalhar nas
bochechas umas três doses de cachaça, para desenferrujar a garganta. E foi mais
ou menos assim a sua verborreia:
- Povo
querido desta Vila. Antes de apresentar a minha proposta, antes de dizer que
quero ser o melhor vereador desta região, venho afirmar sem qualquer sombra de
dúvida que vocês são uns ladrões!... Sim, vocês são uns ladrões!... Vocês
roubaram!...
Um silêncio
de constrangimento imperou na pracinha ao redor do palanque. E ele concluiu
sobre aplausos de quinze ou vinte escutantes:
- Vocês
roubaram o meu coração que agora pertence à Vila dos Carrapatos.
Saiu nos
braços dos eleitores, sob aplausos de todos. Bebeu mais umas duas ou três,
despedindo-se do lugar. Havia compromissos também no Distrito de Bananeiras.
Fluiu para
lá em companhia de um amigo e cabo eleitoral. Uns dois garrafões de cachaça
distribuídos no lugar angariaram um público de cerca de quarenta escutadores.
Verteu seu discurso usando o mesmo chavão empregado na Vila dos Carrapatos. Só
que, mais encachaçado, achou por bem prolongar aquilo que entendia ser o ápice
de sua falação. Mas exagerou na repetição:
- Povo da
Bananeira. Conheço este distrito e o povo deste lugar desde os meus tempos de
criança e posso assegurar sem qualquer sombra de dúvida: Vocês são uns
ladrões!... Vocês são uns ladrões!... Vocês roubaram!... Vocês roubaram!...
Sim. São uns ladrões e roubaram...
Nisso os
prováveis eleitores invadiram o palanque improvisado, despencaram de lá o
Genibaldo descendo-lhe o cacete de forma exemplar, apesar de sua pretensão de
justificativa:
-Esperem, gente, eu posso
explicar!... Ai, ui! Eu vou explicar!...
Explicou
depois, em Chapadão da Jiboia, ao enfermeiro que o atendeu depois de levado desmaiado pelo seu cabo eleitoral.
Depois desta,
a política nunca mais fez parte de seu cardápio. Nunca mais.
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