segunda-feira, 26 de junho de 2017

COISAS DE SABINÓPOLIS

            Chama-se José de Tal ou coisa que valha.  Pouco importa.  Sempre foi conhecido pelo nome de batismo. Casado e pai de alguns filhos, morava vizinho de Paulinho Brejela.
            Uma tarde, o Paulinho precisava buscar alguma coisa no centro da cidade e pediu ao José:
            - Zé, me empresta um menino seu para ira lá no centro buscar um pacote de café para mim.
            O José, com cara de quem não gostou da proposta, resmungou:
            - Nunca vi emprestar menino. A gente empresta é bijeto.

            Acabou liberando a criança para a tarefa e, a partir daí, perdeu o nome de registro e batismo. Passou a ser apenas Zé Bijeto. Até os dias atuais.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

O SUBSÍDIO DO PREFEITO

            Era o prefeito de Saracura do Brejo, lá pelos fundões de não sei onde. Mal garatujava umas poucas letras e lia com dificuldade. Mesmo assim, levava a administração municipal de modo satisfatório. Muito popular conseguira ser eleito já pela segunda vez. Honesto era. Até mesmo porque o município não tinha quase nada que pudesse ser surrupiado.
            Naquela manhã de sexta-feira, levaram-lhe a folha de pagamento para a sua conferência e visto. Pouco mais de uma dúzia de servidores, todos muito mal remunerados. Seu nome encabeçava a lista: Calimério do Espírito Santo, o Cali.
            Examinou o papel, acompanhou a listagem dos servidores e inquiriu o funcionário que lhe apresentara o documento:
            - Quem é este Tota aqui que ganha mais do eu?
            E apontou a linha final do papel timbrado.
            - Aí, Seu Prefeito, é o total da folha de pagamento.

            Resmungou qualquer coisa e foi cuidar de outros afazeres.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

QUADRINHAS 


O espelho que não se engana 
Nos mostra que a vida passa.
Quem já foi cana caiana
Hoje é bagaço e cachaça.

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Fez a dieta pesada, 
À risca, tudo no sério.
Morreu e não sobrou nada
Pra levar pro cemitério.

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Marina, morena esguia
Lá vai com o velho Anacleto.
Que pena! Um jornal do dia
Nas mãos de um analfabeto.

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Tive um coração ardente, 
Hoje cansado, já manso.
Traz uma placa na frente:
- Fechado para balanço.

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No tempo a vida se esvai.
Já não sou mais o que fui.
Já não me deito sem ai
Nem me levanto sem ui.

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Não sei se é fato ou falácia, 
- Quem disse foi Serafim-
Lá no espelho da Pancácia
Todo dia é haloween

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Que seja de aço, mas que se molde em cordas de viola. Porque é preciso enluarar-se.
O REPOUSO DO BOI

            Véspera de Festa de Agosto em Sabinópolis. À noite há o levantamento do mastro e a bandeira com imagem da Virgem. Marujos e Caboclos, ainda sem os respectivos uniformes, saracoteiam em meio à multidão e aos Bonecos Gigantes, Lagartão e o Boi de Balaio, uma versão nossa do Bumba meu Boi nordestino. Cessados os fogos e o levantamento do mastro, a festa se esparrama pelas ruas centrais com o povo acompanhando a alegoria de seu gosto. Eu perseguia o Boi do Balaio, acompanhando a cantoria própria do grupo. E os litros de cachaça com fartura passando de mão em mão. Em frente ao Bar do Lagartixa o cortejo parou para tomar mais umas e outras. O boi descansou na porta, já que vinha aos trancos e barrancos tocado a cachaça de boa qualidade.  Norberto improvisou mais uma quadrinha propícia à ocasião:

            - Eta boi danado,
               Eta boi chifrudo.
               Estou desconfiado
               Que este boi já tá bicudo.

            Levantaram o balaio e jazia lá debaixo, dormindo sono solto, a força motriz do boi. Bêbado e roncando o melhor de seu sono.
            Rebocaram o encachaçado para um canto da rua, providenciou-se um substituto e a horda cambaleante seguiu em frente.

E eu no meio, graças a Deus.