terça-feira, 12 de setembro de 2017

O ANDARILHO
Por uma dessas estradas da vida parei para abastecer o carro e comer alguma coisa. Vi à sombra de uma árvore, recostado em seu tronco, a figura cansada e rota de um homem de meia idade que fixava o infinito com um olhar triste e mortiço. Aproximei-me dele e puxei conversa:
- Como vai, companheiro, você mora por essas bandas?
Ele fixou-me por um instante o olhar cansado e respondeu-me com um sorriso franco:
- Não, moço. Moro aí pelas estradas.
Ofereci-lhe um lanche que aceitou com certa timidez. Achei que valia a pena continuar a conversa:
- Mas você não tem um destino, um lugar certo a que pretenda chegar?
- Não. Não tenho, não. Isto não é importante. E por acaso o Senhor tem?
Respondi-lhe que me dirigia à minha cidade natal, no interior do Estado. E inquiri-lhe em seguida:
- Você, então, não tem um objetivo na vida. Um amigo confiável... Onde pretende estar amanhã?
- Não sei, moço. Nem eu nem o Senhor. Amigos encontro por aí. Veja aquela curva da estrada ali na frente. Por enquanto pretendo chegar até lá. Depois?... Ah! Depois o caminho que vier. O Senhor pretende chegar até à sua cidade. Se chegar, onde mais pretende ir?
- Ora, ora. Lá fico por uns dias. Volto mês que vem. Mas você não tem um objetivo, um lugar, um porto. Onde estará na próxima semana?
- Procuro sempre o rumo do sol poente. Um dia chego lá.
- Mas você acredita que encontrará o sol?
- Claro que acredito. O Senhor também vai chegar lá. O dia, o ano... Nada importa. Ninguém traça um caminho. Ele se apresenta a cada dia. E por aí vamos sempre caminhando até que cheguemos onde o sol se acoita.
Remoí suas palavras e despedi-me do rapaz. Dei-lhe mais uns trocados que recebeu com certa relutância. Segui minha viagem.
Depois da curva da estrada percebi que o pôr do sol se descortinava num tom avermelhado. E bem à minha frente.

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