O PROFESSOR
Arcibaldo
Cuité era um dos poucos moradores da Vila da Cascalheira. Lugarzinho afastado
das comunidades maiores, carecia de tudo. O comércio local se resumia a uma
espelunca que vendia alguns cereais, algum comprimido mais corriqueiro e,
principalmente, cachaça. A escolinha, esta, não tinha carteiras, nem quadro
negro e nem mesmo professor. Caixotes e a parede da salinha atendiam
precariamente essas necessidades. Dona Totonha, que mal garatujava umas letras,
era a encarregada de ensinar às crianças do lugar. Naquele mês de novembro,
entretanto, ficou meio perrengue – por conta de um desmantelo na espinha – e
não conseguiu levar os seus parcos conhecimentos para as pobres vítimas de seus
ensinamentos. A situação ficou complicada porque aproximava-se o final do ano. A
criançada necessitava concluir o ciclo. A solução encontrada foi buscar o Arcibaldo.
Sabia-se que ele dava conta de ler alguma coisa e gabava-se de saber fazer as
quatro operações, desde que não se ajuntasse muitos algarismos.
Passou ele
na casa de Dona Totonha para informar-se de como desenvolver o seu mister. Dia
seguinte cedo, lá estava ele frente à turminha curiosa. Seguindo orientações da
dona Totonha, mandou que fizessem uma composição. E valeria nota. E deixou bem
claro:
- O assunto
é por conta de cada um.
As crianças
dobraram-se sobre seus cadernos, cada uma se desincumbindo de sua tarefa. Lá do
fundo da salinha, Miguelzinho Xumbrega levantou o bracinho mirrado e inquiriu o
Mestre:
- Professor,
garrucha é com um erre só ou com dois erres?
O Cuité
cofiou o bigode ralo, correu a mão na base da nuca como a procurar uma solução
que não vinha. Mas a pergunta carecia de resposta. Não se fez de rogado:
- Olha,
Miguelzinho. Se a garrucha for de um cano só, é com um erre. Mas se for
garrucha de dois canos, aí é com dois erres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário