terça-feira, 30 de junho de 2015

O PROFESSOR

            Arcibaldo Cuité era um dos poucos moradores da Vila da Cascalheira. Lugarzinho afastado das comunidades maiores, carecia de tudo. O comércio local se resumia a uma espelunca que vendia alguns cereais, algum comprimido mais corriqueiro e, principalmente, cachaça. A escolinha, esta, não tinha carteiras, nem quadro negro e nem mesmo professor. Caixotes e a parede da salinha atendiam precariamente essas necessidades. Dona Totonha, que mal garatujava umas letras, era a encarregada de ensinar às crianças do lugar. Naquele mês de novembro, entretanto, ficou meio perrengue – por conta de um desmantelo na espinha – e não conseguiu levar os seus parcos conhecimentos para as pobres vítimas de seus ensinamentos. A situação ficou complicada porque aproximava-se o final do ano. A criançada necessitava concluir o ciclo. A solução encontrada foi buscar o Arcibaldo. Sabia-se que ele dava conta de ler alguma coisa e gabava-se de saber fazer as quatro operações, desde que não se ajuntasse muitos algarismos.
            Passou ele na casa de Dona Totonha para informar-se de como desenvolver o seu mister. Dia seguinte cedo, lá estava ele frente à turminha curiosa. Seguindo orientações da dona Totonha, mandou que fizessem uma composição. E valeria nota. E deixou bem claro:
            - O assunto é por conta de cada um.
            As crianças dobraram-se sobre seus cadernos, cada uma se desincumbindo de sua tarefa. Lá do fundo da salinha, Miguelzinho Xumbrega levantou o bracinho mirrado e inquiriu o Mestre:
            - Professor, garrucha é com um erre só ou com dois erres?
            O Cuité cofiou o bigode ralo, correu a mão na base da nuca como a procurar uma solução que não vinha. Mas a pergunta carecia de resposta. Não se fez de rogado:
            - Olha, Miguelzinho. Se a garrucha for de um cano só, é com um erre. Mas se for garrucha de dois canos, aí é com dois erres.

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