O VIOLEIRO
Panicácio Peneira vagava, sem rumo certo, pelas estradas do sertão. Era violeiro. Vivia
de uma cantoria aqui, outra ali. Um desafio numa vila, uma festança noutra. Ia
assim levando sua vidinha mais-ou-menos. Também não aspirava um futuro
diferente. Bebeu, comeu, dormiu. Pra quê
mais?
Naquele princípio de noite, cansado de vagar pela estrada
empoeirada, chegou a uma cabana à beira do caminho. Chamou à porta e aguardou. Chegou uma mulher, ainda jovem, que o recebeu
desconfiada.
- Pois não, senhor, o
que deseja?
- Boa noite, moça. Estou andando desde cedo e só quero um
lugarzinho para descansar por esta noite. Sou violeiro e estou indo cantar numa
função lá na Vila dos Paneleiros.
- Ah, moço, não posso recebê-lo. É que sou viúva de poucos
meses e, cê sabe, né, as pessoas vão falar.
- Mas, minha senhora, eu só quero dormir. Estou muito cansado
da caminhada. Sou apenas um violeiro que quer chegar ao seu destino. Qualquer
cantinho me serve. Quero apenas abrigo para esta noite fria.
A viúva, Carmelinda, entre uns trejeitos suspeitosos, acabou
cedendo e dando abrigo ao Panicácio.
Manhã seguinte, mal o sol desenfurnava na montanha, o Peneira
foi à bica lavar as platibandas da cara e chocalhar água pelo vão das
bochechas. Na cabana a viúva já aviava um café no fogãozinho fumacento. No
terreiro, os galináceos pescoçavam à procura de alguma cuiada de milho. O
Panicácio, observou e comentou:
- Olha, dona Carmelinda, a senhora tem aqui umas dez galinhas
e, pelo que vi, são oito galos. Não precisa tantos. Para estas galinhas um galo
basta.
A viúva, recolhendo no bule o café que corria cheiroso,
resmungou entre os dentes:
- A bem da verdade, moço, galo mesmo é um só. Os outros sete são violeiros.
Nada mais disse. E nem precisava.

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