DEIXA PRA LÁ
Final da
década de cinquenta ou, talvez, início dos anos sessenta. No Gramado da
Hortinha, em Sabinópolis, jogavam o Correntes Clube e o Graipu. Planadeira era um dos principais jogadores do
Graipu. Angariara este apelido porque onde passava o seu pé as saliências do
gramado se desvaneciam. Planava o terreno... e jogando descalço, à falta de uma
chuteira maior que o número quarenta e quatro.
Haroldo
Araújo, naquele embate, era o goleiro do Correntes. Esforçado, mas de baixa
estatura, nunca chegou a ser brilhante na posição. Naquele dia, depois de levar
uns dois gols, Donê Queiroga, o técnico, achou por bem substituí-lo. Convocou
Dalvon Mendes, o Patati, para se encarregar de defender a meta, numa tentativa de melhorar o sistema
defensivo. O Patati deu aquele pique clássico de aquecimento, sacolejou os
braços e aproximou-se da meta defendida pelo Haroldo. Meio avexado,
aproximou-se e deu o seu recado:
- Haroldo, o
Donê mandou eu entrar no seu lugar.
Haroldo
virou-se ligeiramente para trás e disparou:
- Não saio
daqui nem a tiro. Nem morto.
Dalvon coçou
a base da nuca e voltou-se para a lateral do campo onde se encontrava o
técnico:
- Seu Donê,
o homem falou que não sai de lá nem a tiro. Nem morto.
Donê avaliou
a situação e indagou do goleiro reserva:
- Dalvon,
você vai lá dar tiro nele? Vai querer matá-lo?
- Tá doido,
Seu Donê! Faço isto, não!
E o Donê,
com aquela calma que lhe era peculiar:
- Então
deixa o homem lá. E ponto final.
O Graipu foi
embora comemorando uma vitória histórica.
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