quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

DEIXA PRA LÁ

            Final da década de cinquenta ou, talvez, início dos anos sessenta. No Gramado da Hortinha, em Sabinópolis, jogavam o Correntes Clube e o Graipu.  Planadeira era um dos principais jogadores do Graipu. Angariara este apelido porque onde passava o seu pé as saliências do gramado se desvaneciam. Planava o terreno... e jogando descalço, à falta de uma chuteira maior que o número quarenta e quatro.
            Haroldo Araújo, naquele embate, era o goleiro do Correntes. Esforçado, mas de baixa estatura, nunca chegou a ser brilhante na posição. Naquele dia, depois de levar uns dois gols, Donê Queiroga, o técnico, achou por bem substituí-lo. Convocou Dalvon Mendes, o Patati, para se encarregar de defender a  meta, numa tentativa de melhorar o sistema defensivo. O Patati deu aquele pique clássico de aquecimento, sacolejou os braços e aproximou-se da meta defendida pelo Haroldo. Meio avexado, aproximou-se e deu o seu recado:
            - Haroldo, o Donê mandou eu entrar no seu lugar.
            Haroldo virou-se ligeiramente para trás e disparou:
            - Não saio daqui nem a tiro. Nem morto.
            Dalvon coçou a base da nuca e voltou-se para a lateral do campo onde se encontrava o técnico:
            - Seu Donê, o homem falou que não sai de lá nem a tiro. Nem morto.
            Donê avaliou a situação e indagou do goleiro reserva:
            - Dalvon, você vai lá dar tiro nele? Vai querer matá-lo?
            - Tá doido, Seu Donê! Faço isto, não!
            E o Donê, com aquela calma que lhe era peculiar:
            - Então deixa o homem lá.  E ponto final.

            O Graipu foi embora comemorando uma vitória histórica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário