terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A SELA DO BISPO



            Santana do Badulaque estava eufórica. Pela primeira vez iria receber o bispo da diocese, Dom Serapião Pestana. A cidadezinha era um reboliço só. As senhoras do lugar preparavam os comes-e-bebes para a comitiva. Outros, os jovens, cuidavam da recepção. A criançada ensaiara, por mais de mês, hinos religiosos e pátrios para desovar na chegada. Os poucos músicos do lugar capricharam em vários dobrados para desafinar menos na chegada do religioso e seus padres acompanhantes. Já o fazendeiro Aristobaldo Praxedes cuidava dos animais e dos arreios que iriam buscar a comitiva de Sua Excelência Reverendíssima na estação mais próxima, cerca de meia légua da cidade. Animais caros e dóceis,  arreios especiais e todo o conforto possível era providenciado para trazer o religioso e sua comitiva para a visita histórica à cidadezinha. Em frente à casa do Praxedes, onde também se hospedariam os religiosos, a turma ultima os retoques para buscar o séquito representante de Deus. Chega o Antenório Gusmão, o boticário do lugar, observa a arrumação e destaca um cavalo alazão, o mais bem arreado. Toca a borraina da cela para certificar-se de sua maciez. Chega o dono dos animais e, orgulhosamente, assevera:
            - Este é o meu melhor cavalo, com o melhor arreio que tenho, reservado para Sua Excelência Reverendíssima.
            O boticário repica a mão mais três vezes sobre o assento do arreio e comenta:
            - Então é aí que Sua Excelência Reverendíssima, Dom Pestana, irá repousar a sua Santíssima bunda.

            Se alguém em volta teceu algum comentário descarece aqui narrar.

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