O HELICÓPTERO DE
VICENTE
Vicente e
Lauro entornavam copos e mais copos no Bar de Humberto. Já bastante
aperitivados, a conversa de ambos se enveredava para qualquer assunto. Vicente,
então, era o que mais diversificava na prosa, naquele lero-lero que lhe era
peculiar. Naquela tarde deu para descrever um helicóptero que, segundo ele,
havia comprado para transportá-lo do bar para casa e vice-versa. Na sua conversa de encachaçado chamava o aparelho voador de horoscopo. Sua prosa era mais ou
menos assim:
- Olha,
Lauro, comprei um horoscopo novo e se você quiser posso te entregar em casa
todo fim do dia. O aparelho vai chegar na semana que vem. O Baiano é que vai
pilotar o treco.
E Lauro
enfadado com a conversa mole:
- Ih,
Vicente! Conversa mais chata! Vai amolar o boi!
Vicente
insistia:
- Desse
jeito eu não vou carregar você no meu horoscopo. O Baiano já está em São Paulo
e vai trazer o bichinho na segunda-feira. Quero que você dê palpite na cor que
eu deva pintá-lo. Pensei em azul, mas acho que vai misturar com a cor do céu.
Quem sabe vermelho... ou amarelo...
Humberto, a
princípio, se divertia com a pataquada dos dois. Depois começou a cansar de
ouvir a mesma lengalenga. Lauro continuava esbravejando:
- Cala a
boca, Vicente! Vai ser chato assim lá no Togó!
Vicente
insistia:
- Qual a cor
que você acha melhor para o meu horoscopo, Lauro? Você ainda não deu sua
opinião... Vou levar também Pio de João de Olavo para abrir as porteiras.
E cachaça
desce e a prosa repetitiva continuava. Humberto estava ainda mais enfadado com
a conversa mole. Por fim Lauro convenceu o Vicente a ir embora que, na porta do
bar, ainda falava sobre o horoscopo enquanto o companheiro procurava pagar a
última cachaça que havia bebido. Humberto, prestes a se ver livre da dupla,
dispensou o pagamento:
- Pode ir,
Lauro, nem vou cobrar esta última pinga. É presente por você me livrar desta
prosa chata de Vicente.
E Lauro,
oportunista:
- Então me
dá aí a saideira.
- Mas esta
você vai pagar, Lauro. Não vou cobrar aquela que você já bebeu.
E serviu a
dose para o freguês.
Lauro virou-se para a porta onde estava o
Vicente e requereu:
- Volta cá,
Vicente, e vamos escolher a cor de seu horoscopo.
E Humberto,
com aquele sorriso que sempre carregava, foi dispensando os dois:
- Não,
Lauro, pode ir. Não vou cobrar, não! Pode ir! Pode ir! Chega de horoscopo.
E os dois,
no fim da tarde morna, saíram ziguezagueando pela rua estreita.
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