PROBLEMA RESOLVIDO
Cândido
Pacífico era uma alma incapaz de fazer mal a uma formiga. Era, como dizia sua
avó, naqueles idos tempos, o espelho de seu próprio nome. Eis que um dia, em
Serra do Vai Quem Pode, cidadezinha onde morava, bebeu uma a mais na festa da
padroeira e deixou escapar a um grupo de amigos algumas verdades desabonadoras
sobre Miguel Suvanca, um caloteiro metido a valente que havia no lugar. A
conversa ganhou raiz e chegou até ao Suvanca que prometeu fazer o Pacífico
engolir o que havia dito a poder de tapas e safanões. Começou aí o desassossego
do pobre homem. Já não saia de casa e, quando o fazia, por estrita necessidade,
olhava pelas quinze bandas para ver se evitava o desfecho de sua inconsequência
verbal. Os dias rolavam e o Pacífico nem dormia direito já imaginando o
encontro que, mais cedo ou mais tarde, certamente haveria de acontecer. Reagir,
nem pensar. O Suvanca era enorme e inconsequente. Além do mais, gostava de se
gabar de sua valentia. A mulher, vendo a situação crítica do marido, chegou a
aconselhar:
- Compra uma
arma, homem, e resolve essa situação de uma vez por todas!
Qual, o quê.
O Cândido não tinha essa índole violenta e muito menos coragem para cometer um
assassinato.
Num final de
manhã, depois de vasculhar toda a área e achá-la desinfetada do inimigo, o
Pacífico foi buscar umas precisões na venda do Pata Choca. Retornou em menos de
meia hora e, da porta de entrada, foi anunciando à sua mulher que limpava uns
pés de porco na cozinha:
- Olha, Clementina, está resolvida a questão com o
Suvanca. Agora posso dormir em paz! Enfim, sossego!
- ‘Cê matou
o homem, Pacífico?! O quê que aconteceu?
- Matei,
nada, mulher. Mas já apanhei.
E foi
procurar um espelho para, em companhia da Clementina, distribuir uma água morna
com sal no par de beiços exageradamente crescidos pelas pancadas e reparar as
demais avarias da fachada.
Enfim,
sossego!
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