A CIRURGIA
Manoel
Cascalheira era um burocrata de pouca expressão no serviço público de Cachoeira
dos Balaios. Com menos de quarenta anos viu, com certa tristeza, que seus
cabelos iam se despedindo, causando-lhe grande desgosto. Apurou alguma verba de
suas economias e partiu para a capital onde submeteu-se a uma cirurgia de
implante de cabelos, por sinal bem sucedida. De volta à terra, com juba nova e
frondosa, desfilava na repartição em que trabalhava, cabeça erguida, orgulhoso
sua nova aparência. Passou aí o ter
aborrecimentos causados por um colega, o Zé Chumbrega, sujeito considerado boa
praça, mas excessivamente pegajoso. Toda
vez que passava pela mesa onde trabalhava o Cascalheira, carimbando os seus
papéis, esfregava a mão na sua cabeleira nova, desarrumando aquele topete
vistoso que passara a ser o orgulho do Manoel. Aquilo o aborrecia deveras, já
que gostava de andar penteado e bem vestido, principalmente naquela ocasião que
andava de olho na Maristela, uma recepcionista que trabalhava numa saleta ao
lado. Um dia extravasou a sua contrariedade nestes termos:
- Olha,
Chumbrega, desde que fiz essa cirurgia, você vem azucrinando minha vida, nem
mesmo tendo esperado a cicatrização completa do implante. Você também fez uma
cirurgia de hemorroida há cerca de seis meses e eu ainda não futuquei o local.
A sua impertinência em me aborrecer me dá igual direito. Fica, portanto, a seu
critério autorizar-me a manter igualdade no procedimento. Você é quem sabe!
Nunca mais o
Zé Chumbrega esparramou o topete do Cascalheira.
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