sábado, 10 de dezembro de 2016

A CIRURGIA

            Manoel Cascalheira era um burocrata de pouca expressão no serviço público de Cachoeira dos Balaios. Com menos de quarenta anos viu, com certa tristeza, que seus cabelos iam se despedindo, causando-lhe grande desgosto. Apurou alguma verba de suas economias e partiu para a capital onde submeteu-se a uma cirurgia de implante de cabelos, por sinal bem sucedida. De volta à terra, com juba nova e frondosa, desfilava na repartição em que trabalhava, cabeça erguida, orgulhoso sua nova aparência.  Passou aí o ter aborrecimentos causados por um colega, o Zé Chumbrega, sujeito considerado boa praça, mas excessivamente pegajoso.  Toda vez que passava pela mesa onde trabalhava o Cascalheira, carimbando os seus papéis, esfregava a mão na sua cabeleira nova, desarrumando aquele topete vistoso que passara a ser o orgulho do Manoel. Aquilo o aborrecia deveras, já que gostava de andar penteado e bem vestido, principalmente naquela ocasião que andava de olho na Maristela, uma recepcionista que trabalhava numa saleta ao lado. Um dia extravasou a sua contrariedade nestes termos:
            - Olha, Chumbrega, desde que fiz essa cirurgia, você vem azucrinando minha vida, nem mesmo tendo esperado a cicatrização completa do implante. Você também fez uma cirurgia de hemorroida há cerca de seis meses e eu ainda não futuquei o local. A sua impertinência em me aborrecer me dá igual direito. Fica, portanto, a seu critério autorizar-me a manter igualdade no procedimento. Você é quem sabe!

            Nunca mais o Zé Chumbrega esparramou o topete do Cascalheira. 

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