terça-feira, 25 de abril de 2017

O HIPOCONDRÍACO

A hipocondria é uma mania de que padecem algumas pessoas de sempre se acharem doentes. É uma doença e aqueles que dela sofrem vivem à procura de remédios para a cura de seus males criados pela sua mente imaginativa.
            Pois bem. Manuelito Pascácio padecia deste mal. Sua conversas versavam sempre sobre doenças e malestares de que imaginava padecer.
            Em conversa com seu compadre Petronildo Versosa reclamava:
            - Pois é, Petronildo. É uma dor constante aqui no vazio. Cada fincada que responde mais embaixo. Não há remédio que cure.
            Por sua vez o Versosa queixou-se de umas dores no pulmão direito:
            - Eu também não ando muito bem. É uma dor aqui por baixo das costelas. Acho que é um princípio de pneumonia.
            O Manuelito disparou:
            - Também sofro disto, e é nos dois pulmões. Acho que é pneumonia. E dupla.  Já estou tomando antibiótico há mais de uma semana e nada de melhorar. Por falar nisto, você não tem algum remédio sobrando lá em sua casa? Talvez tenha algum que me sirva.
            Já na casa do compadre, começou a revirar caixas e caixas de remédios, alguns já vencidos.
            - Este aqui me serve. Vi na bula que é bom para dor nas juntas. Estou que não aguento nem andar direito.
            - Pode levar, Manuelito. Olha se já não está vencido.
            E procura aqui, escarafuncha lá. Foi separando na caixa do compadre mais remédios, cada qual bom para os males de que garantia padecer:
            - Se você não fizer questão, vou levar este também que é para dor de estômago. Deixa ver. Tomar um comprimido de seis em seis horas.  Este aqui está quase vencendo, mas serve para enxaqueca. Ai como sofro com essa dor de cabeça. É coisa diária. Tem mais um aqui para rinite alérgica. Se você não fizer questão vou aproveitar também. Deixa eu ver a bula. Tomar de quatro em quatro horas... Espera aí. Este não vai dar para eu tomar. Deixa para outra vez.  Não tenho mais horário.
            Despediu-se do compadre dirigindo-se à sua casa para consumir a colheita recém adquirida.

              
ACENDEU A CHALEIRINHA

            Lembro-me muito bem. Final dos anos setenta. Uma colega minha, secretária de escola, adquiriu um Chevette semi-novo, muito em moda naquela época. O carrinho, lembro-me bem, era branco, bem a gosto da época, parecia ter saído da montadora naqueles dias. A minha amiga andava nas nuvens com seu veículo quase zero.
            Numa segunda-feira, chegou um pouco atrasada ao serviço. Justificou a todos nós, reunidos numa saleta ao lado da Secretaria onde trabalhava:
            - Desde a semana passada vinha observando o meu carro. Acendia a chaleirinha do painel e eu colocava água no radiador. Logo, logo a chaleirinha estava acesa de novo. Olhava o radiador e este estava completo.  Mesmo assim despejava mais água. Sábado passado dei uma volta mais longa, observando a chaleirinha, sempre acesa. O motor do carro fundiu. Só aí é que me falaram que a chaleirinha dava sinal de falta de óleo, não de água.

            Coitada!... Não conhecia ela o símbolo do óleo, uma almotolia, muito parecida com aquelas lâmpadas mágicas do Aladim.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

O VENDEDOR AMBULANTE

            Sabinópolis antiga. Januário Batata, saía pelas ruas vendendo pães frescos, saídos da padaria de Agenor. Apregoava seu produto nestes termos:
            - Olha o pão da hora.  Quem tem dinheiro come quente, quem não tem reganha o dente.
            Os consumidores, poucos àquela época, saíam à porta para adquirir o produto. Pouca coisa. Era mais comum consumir-se biscoitos, bolachas e bolos caseiros. Outros preferiam o fubá suado ou outra merenda também caseira, além de frutas, muito presentes nos quintais das casas.
            Confesso que não me lembro do Januário Batata e de seus pregões. Mais tarde, quando comecei a frequentar a cidade, tempos do grupo escolar, ouvia o mesmo pregão dos pipoqueiros ou vendedores de amendoim (Manezinho de Paulo era um deles) que aos fins de semana vendia os produtos na Praça da Matriz. O anúncio era o mesmo:
            - Quem tem dinheiro come quente, quem não tem reganha o dente.

            A gente passava, olhava e, quase sempre sem um níquel no bolso, saía reganhando o dente. Tempos bons?! Sei não.