quinta-feira, 17 de janeiro de 2019


CONTRAPESO

            Não me ocorre mais o seu nome completo. Era Zé de Tal. Sei que morava lá pra baixo, na beira do rio Guanhães, cerca de duas horas de caminhada da cidade de Sabinópolis.
            Naquela manhã, por volta das dez horas, chegou à venda de Nilo Lapinha para pagar uma continha da semana anterior. Aproveitou e ofereceu ao vendeiro uma abóbora avultada que trazia dentro de um saco de algodão encardido, expondo-a no balcão do comércio. Nilo olhou o legume e o achou exagerada para o consumo de sua família. Viu um volume bem menor dentro do saco e perguntou se aquela abóbora também não estaria à venda.
            - Aqui não é abóbora, não, Seu Nilo. É uma pedra.
            E retirou do saco uma pedra rolada, destas que aparecem nos leitos dos rios.
            Foi inquirido pelo comerciante:
            - Pra que isto, Seu Zé? Tá vendendo pedra agora?
            - É pra firmar  – respondeu, sem maiores explicações.
            Pôs os dois volumes dentro do saco, amarrou bem a boca, jogando a carga sobre o ombro, distribuindo o peso: a abóbora junto ao peito e a pedra sobre as costas. Quebrou a esquina da rua sob o olhar patético de Nilo e seus fregueses. Foi procurar em outras bandas quem lhe aliviasse o peso.
           

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