CONTRAPESO
Não me
ocorre mais o seu nome completo. Era Zé de Tal. Sei que morava lá pra baixo, na
beira do rio Guanhães, cerca de duas horas de caminhada da cidade de
Sabinópolis.
Naquela
manhã, por volta das dez horas, chegou à venda de Nilo Lapinha para pagar uma
continha da semana anterior. Aproveitou e ofereceu ao vendeiro uma abóbora
avultada que trazia dentro de um saco de algodão encardido, expondo-a no balcão
do comércio. Nilo olhou o legume e o achou exagerada para o consumo de sua
família. Viu um volume bem menor dentro do saco e perguntou se aquela abóbora
também não estaria à venda.
- Aqui não é
abóbora, não, Seu Nilo. É uma pedra.
E retirou do
saco uma pedra rolada, destas que aparecem nos leitos dos rios.
Foi
inquirido pelo comerciante:
- Pra que
isto, Seu Zé? Tá vendendo pedra agora?
- É pra
firmar – respondeu, sem maiores
explicações.
Pôs os dois
volumes dentro do saco, amarrou bem a boca, jogando a carga sobre o ombro,
distribuindo o peso: a abóbora junto ao peito e a pedra sobre as costas.
Quebrou a esquina da rua sob o olhar patético de Nilo e seus fregueses. Foi
procurar em outras bandas quem lhe aliviasse o peso.
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