MINHA VIDA MUSICAL
Nunca neguei a ninguém que sempre fui
versado em cantorias. Conheço muitas músicas populares e canto, modéstia à
parte, bem. Não chego a ser um Frank Sinatra, mas me aproximo muito dele. Nos
meus tempos de juventude nunca pagava para entrar nos bailes e nas horas
dançantes de minha cidade. Chegava à porta, de terno e gravata como se exigia à
época, e anunciava ao porteiro:
-Não vou
pagar e vou entrar.
Era repelido
até que eu anunciava:
-Ou vou
entrar ou vou cantar boleros aqui na porta a noite inteira.
Invariavelmente
entrava sem pagar. Acho que o pessoal do clube não queria concorrência com o
conjunto mequetrefe que haviam contratado. Gente de nível fraco mas, enfim,
ganhava para fazer a festa.
Minhas
serenatas eram memoráveis. Era costume no interior se cantar nas portas das
casas das moças do lugar. Fiz sucesso que duvido que alguém faça. Lembro-me de
uma vez que me jogaram flores. Coisa mais linda... Pena que anexo viera o vaso
que não me acertou por questão de sorte. Mas relevei em virtude da boa intenção
e continuei a expelir as minhas canções pelas ruas da cidade.
Numa certa
investida, consegui fazer a feira para uma semana. Achei a deferência um pouco
estranha mas, enfim, cada um se manifesta da maneira que entender mais apreciativa.
Atiraram-me legumes e frutas que deu para a feita de mais de quinze dias. Era
laranja, tomate, batatas, repolho e melancia. Só achei exagerado quando me
atiraram uma abóbora d’água, de uns oito quilos, lá no nordeste conhecida como
jerimum. Dia seguinte era aquele alvoroço na cidade. Fui por inúmeras vezes
notificado para cessar as minhas investidas de trovador. Acho que por força do
sobrinho do Prefeito que tinha um conjuntinho vagabundo e que temia a minha
concorrência.
Agora,
depois de um tempo, já maduro nas minhas opções, resolvi reviver aquele tempo:
vou voltar a desovar as minhas cantorias pelas ruas da cidade.
Salve-se
quem puder!
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