QUERELA NO BUTECO
Encontrei-me
com Custódio Praxedão ontem na praça principal de Peneira Velha que,
mais ou menos nesses termos, me relatou uma querela em que se envolvera dias
atrás com Placidino Caixote:
- Olha,
companheiro. O Senhor me conhece de muito e sabe que não sou de aturar conversa
fiada e nem tampouco levo desaforo pro meu rancho. O Caixote, metido a besta,
não sei se tocado por uma ou duas cachaças, deu de me desonrar lá no buteco do
Muquiça, logo na minha própria presença. Pedi que maneirasse o palavreado e
desse as provas de que dei calote aqui neste comercinho. O homem me desacatou e
tive que usufruir de minha habilidade brigativa. O caldo ferveu e entornou.
Larguei nele um cangapé, daqueles que só eu sei o segredo. O homem voou uns
quatro metros e voltou irado feito uma cobra na queimada. Aí fui obrigado a
soltar a pá do braço direito na panela de seu ouvido. O Caixote rodou feito um
pião, pegou o prumo de novo e investiu outra vez. Soltei nele a sola da botina
bem na tampa do bucho. O homem arrotou choco e desovou a gororoba do almoço,
emporcalhando o piso do buteco. Catou o ar com a fuça já inchada e partiu pra
cima, esta pela última vez. Liberei um rabo de arraia que aprendi no cais da
Bahia ele pegou voo e saiu pela janela, estatelando a cacunda no calçamento da
rua. Lá mesmo dormiu e até roncou.
Ouvi a
conversa e não dei qualquer opinião. E o Praxedão concluiu:
- Tô sabendo
agora que o Caixote quer até me agradecer por uns benefícios que lhe fiz. A
orelha esquerda dele, aquela afetada pelo tapão, desentupiu na hora e ele
passou a ouvir como nos tempos de menino.
Aquela cacunda curvada que deu a ele o apelido de “camelo”, desempenou
de vez e ele agora anda empinado que nem um galo chefe de terreiro.
Passeei a
mão pela base da nuca e despedi-me sem mais palavras.
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