SATISFEITO
As famílias antigas, quando seus
filhos iam visitar algum parente ou amigo, sempre faziam inúmeras recomendações de
como deveriam eles proceder em casa dos outros. Primavam para que as crianças
não as envergonhassem, principalmente às refeições. E foi debaixo de inúmeras
preleções que Balduíno Pascácio, menino de cerca de dez anos, se deslocou para passar aquela tarde de
domingo na fazenda de seu padrinho, Alfredão Canastra, fazendeiro dos antigos.
O passeio, até certa hora, transcorreu dentro da normalidade: brincou com meninos
da fazenda, os filhos do padrinho e outras crianças dos arredores.
Foram chamados para o café da tarde.
Mesa posta. Biscoitos, roscas, bolo de fubá e demais iguarias denotavam a
fartura da merenda. Balduíno correu o olhar guloso sobre tudo. As brincadeiras
e a pequena viagem que empreendera avivava-lhe a fome. Ademais não estava
acostumado com tanta iguaria de boa qualidade. Mas... - sempre tem um mas - lembrou-se
da recomendação de sua mãe:
- Olha a falta de educação!
Comeu apenas uma rosquinha e um
biscoito. A vontade era, pelo menos, provar cada iguaria daquela mesa farta.
Sorveu o resto do café e deixou a xícara vazia ao lado. Juntou as mãos sobre os
joelhos e aguardou a hora certa de sair da mesa. Os demais meninos se
deliciavam com os sequilhos bem ali à sua frente. Ele apenas apreciava. O
padrinho, no seu linguajar peculiar, oferecia-lhe as guloseimas:
- Come, menino. Cê tá doente?
E Balduíno relembrando o que ouvira
da mãe, despachou na mesma expressão sempre usada por ela:
- Brigado, Padrinho, mas já tô de
rabo cheio.
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