NOME A ZELAR
Porfírio
Canela era o mestre da costura em Chavascal das Queimadas. Laborava com mais
dois oficiais meia-agulha na rua principal da vila.
Naquela tarde
morna, tempos antigos, chega o Reduzino
Panguela, corte de casemira no vão do sovaco, procurando o alfaiate.
- Boa tarde,
Seu Porfírio. Trouxe um pano aqui pro Senhor fazer um terno para mim.
Porfírio
correu uma rabanada de olhar para a carcaça mal enjambrada do freguês e não
gostou do que viu. O homem era meio empenado, não se sabe se para a direita ou
para a esquerda. A espinha também tinha lá suas pendências tanto para trás
quanto para frente. Porfírio pegou a fita métrica e, meio aborrecido, começou a
tirar-lhe as medidas. O comprimento do paletó dava uma diferença
considerável entre a direita e a esquerda. As mangas não afinavam uma com a
outra. Os ombros descaiam para um lado. O comprimento da calça também divergia entre
uma e outra perna. Retornou ao caderno onde anotara as medidas e inquiriu o
freguês:
- Seu Reduzino,
o Senhor precisa dessa roupa para quando? -
E despejou um olhar significativo aos dois auxiliares que observavam.
- É para o
final de agosto, Seu Porfírio. Sou testemunha do casamento de minha afilhada
Maria do Rosário.
- Ih! Final
de agosto?! Nóóó! Falta pouco mais de um
mês!... Não vou poder pegar seu serviço. Não vai dar tempo para acabar.
Infelizmente!
Devolveu o
tecido ao pretenso freguês e comentou depois de verificar que ela já havia
dobrado a esquina:
- O homem
não dá nível e nem prumo em lado nenhum!
- Ele ia me
desmoralizar aí na praça! Eu, hem! Tenho meu nome a zelar.
14.07.2020
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