QUARENTENA LONGA
Chiquinho
Sossego seguia a passos lentos pela rua do Vigário quando avistou na janela da casa
cinza o seu amigo de outros tempos, o Lindomar Cuia-Velha. Cumprimentou-o com
satisfação:
- Boa tarde,
Lindomar, como vai? Anda sumido!
- É,
Chiquinho, tô quieto aqui.
- Sei. Com
esta pandemia há que se cuidar. Mas com
cautela vou me desviando dela e levando a minha vida. Não aguento ficar quieto
e dou minhas voltas.
- Pois é,
Chiquinho. Você é que é feliz! Estou de quarentena há muitos anos, aliás, desde
que me casei. E a pandemia está ali dentro. Dorme na minha cama, come na minha
mesa.
Disse isto em
sussurros, não sem antes correr os olhos
para o interior de sua casa e pôr a mão em concha à volta da boca.
Chiquinho
despediu-se e seguiu pela rua a passos lentos, brisa de início de outono
desarrumando os seus cabelos.
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