quinta-feira, 9 de julho de 2020


REMÉDIO MAL ARRUMADO

            Baduíno Gondó acordou naquela segunda-feira meio empenado. Seu pescoço acompridado pendia pro lado esquerdo e qualquer esforço para dispô-lo na posição correta resultava em dores e gemidos. Quinquinha Biscoiteira, sua mulher, foi avisar que o café acabara de ser passado e estranhou aquela cara virada do marido:
            - Que diacho é isto, Gondó. Tá de cara torcida?
            - Acordei assim. Acho que dormi mal arrumado e empenou meu pescoço.
            Quinquinha providenciou uma compressa de água quente e descansou na parte afetada. Nada. O torcicolo persistiu e qualquer esforço para endireitar a peça resultava em dores agudas.
            O jeito, Gondó, é ir lá na Vila e comprar um relaxante muscular na farmácia do Caburé. Toma um comprimido lá mesmo e traz mais uns três para depois. O pescoço endireita logo.
            O Baduíno que precisava mesmo ir à Vila, botou os pés na estrada. Rompeu a distância pouca e foi aviar o tal remédio. Caburé o farmacêutico prático não estava. Deixara lá um rapazinho novato para atender em seu lugar.  Gondó não lembrava mais do nome do tal remédio e, depois de algum esforço, requereu:
            -Traz um laxante aí, menino! Dos bons.
            Pediu um copo de água e engoliu o comprimido, levando mais meia dúzia pra tomar depois.
            Comprou uma garrafinha de querosene, sal e rapadura, atendendo os pedidos da mulher e retornou.
            Ainda na saída da Vila o comprimido fez efeito. Careceu de embrenhar mato a dentro para desapertar. Antes de chegar em casa repetiu o desaperto. Passou a tarde toda na casinha da latrina lá na beira do quintal. Tomou ainda mais dois comprimidos no mesmo dia e nada. O pescoço doía e os fundos não davam descanso.
            Dia seguinte, fraco, mandou a mulher pedir ao vizinho do sitiozinho acima para providenciar recado para que o farmacêutico viesse vê-lo.
            Constatado o engano, foi-lhe prescrito o relaxante, de que ainda carecia. Relutou enfezado:
            - Não, Seu Caburé. Tomo isso não. Se o laxante fez este estrago não posso tomar o tal de relaxante que o Sr. recomenda. Vai laxar a ré  que já tá afetada. Aí desgrama tudo!
            Parou com o laxante e curou o torcicolo com o tempo.

Obs: Vão dizer que não existe o verbo  “laxar”. Não existia, agora passou a existir. Se relaxante é para relaxar, laxante serve para laxar,  que significa soltar, afrouxar.
E tenho dito.


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