A LISTA
Geroliso
Condé morava numa cidadezinha lá pras bandas do Rio Fumaça. Morro das Cabaças
era um comercinho próspero e até certo ponto agitado.
O Condé
vivia de uma aposentadoria pouca, mas suficiente para sua vidinha sem grandes
pretensões. Morava num ponto estratégico
da cidade, sozinho e conhecia a vida de quase todos do lugar. Dormia pouco e,
de sua varanda, rondava com o olhar a praça principal e, muitas vezes dava um
giro pelas imediações já noite alta ou madrugada.
Naquele dia,
sentou-se ao lado de Manezinho Cabeção e relatou-lhe o que andava aprontando:
- Olha,
Cabeção. Sei de quase tudo que passa de errado aqui neste lugar. Conheço as
pessoas casadas e outras não que andam com mulheres ou maridos de gente
daqui. Gente que você nem imagina. Tudo
por debaixo do pano.
E revelou o
seu intento:
- Estou
descrevendo tudo num relatório que já está quase pronto e vou vendê-lo para os
interessados.
- Tá doido,
homem! Isto é muito sério! Vai dar morte, inclusive você mesmo corre o risco!
- Calma,
Cabeção. Deixa que eu explique. Estou fazendo
um relato, a princípio, sem citar nome de ninguém. Cada pessoa será conhecida por uma letra ou
um número. Posteriormente eu vendo caro a listagem que identificará cada um.
Anoto o nome dos interessados, recebo o pagamento adiantado e distribuo a folha
encrencosa. De posse dessa grana, pretendo dar um giro lá pela capital e espero
a coisa esfriar.
Assim como
pensou, fez. Distribuiu os relatos de graça e agendou dia, local e hora para
vender a listagem reveladora dos nomes.
Hora
marcada, chegou. Muita gente esperava. A curiosidade era enorme.
Aproximou-se
e explicou o seguinte:
- Olha,
pessoal. Sinto informá-los que, por motivo de força maior, não vou
disponibilizar mais a tal listagem.
Embora ameaçado pelos protagonistas dos casos narrados, ia vender a
listagem assim mesmo. Mas eles pagaram
muito mais para que eu a consumisse.
E numa falha
crassa de memória, disparou:
- A mulher
do delegado me deu uma fortuna para incinerar os papéis. Sem falar nos demais
que me pagaram muito bem.
Recobrou a
consciência e escafedeu-se pela rua estreita.
Transcorridos mais de dois anos, até hoje ninguém dá notícia de Geroliso
Condé.
10.11.2020
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