terça-feira, 30 de junho de 2015

CADÊ MEU CHAPEU

            Itupeva é um pequeno distrito de Medeiros Neto, município do sul da Bahia. Há também uma cidade do Estado de São Paulo com este nome, mas isto não nos interessa para o presente causo.
            Itupeva, na língua tupi-guarani, significa cascata baixa ou corredeira.
            Vamos ao que interessa. A Itupeva da Bahia era conhecida até determinada época pelo nome de Chapeu Velho. Depois de rebatizada, seus habitantes passaram a desprezar o nome antigo e se assim fosse denominada sentiam-se ofendidos.
            Numa tarde de sol morno, chega à vila o Pedro Cabaça, morador de uma comunidade mais distante. Encachaçado até à tampa, como de seu costume, começa a fazer pataquada na pracinha única do lugar. Fala pelos cotovelos e, jogando seu chapelinho para cima, começa a provocar o povo  do lugar:
            - Viva o meu chapeu! Viva o Chapeu Velho.
            Quinquim Bigode foi o  primeiro a repreendê-lo:
            - Olha, moço, o povo daqui não está gostando deste abuso, não. Se eu fosse o Senhor caia fora antes que o caldo engrosse.
            E o Cabaça, cada vez mais provocativo:
            - Que nada, Sô! É Chapeu Velho mesmo. Chapeu Velho! Falei e repito.
            Aí reuniram-se uns desocupados que presenciavam o espetáculo e descansaram as mãos no lombo do cachaceiro. Deixaram-no estatelado na poeira amarelada da via pública. Uns dez minutos depois, o Pedro levanta-se, desconfiado e vai tomando o rumo da saída da vila, sob o olhar de censura do povo do lugar.  De repente retorna até o centro da praça, sendo interpelado por um daqueles que o havia agredido:
            - O quê que é, sujeito! Voltou para apanhar mais? Não tomou vergonha?
            E o Cabaça humilde, subserviente e desculpativo:
            - O Senhor desculpa. Já tô indo embora. Só vim pegar minha Itupeva que ficou aqui.
            Recolheu o seu chapelinho velho e, a passos largos, sumiu na quebrada da rua adjacente.

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