CADÊ MEU CHAPEU
Itupeva é um
pequeno distrito de Medeiros Neto, município do sul da Bahia. Há também uma
cidade do Estado de São Paulo com este nome, mas isto não nos interessa para o
presente causo.
Itupeva, na
língua tupi-guarani, significa cascata baixa ou corredeira.
Vamos ao que
interessa. A Itupeva da Bahia era conhecida até determinada época pelo nome de
Chapeu Velho. Depois de rebatizada, seus habitantes passaram a desprezar o nome
antigo e se assim fosse denominada sentiam-se ofendidos.
Numa tarde
de sol morno, chega à vila o Pedro Cabaça, morador de uma comunidade mais
distante. Encachaçado até à tampa, como de seu costume, começa a fazer
pataquada na pracinha única do lugar. Fala pelos cotovelos e, jogando seu
chapelinho para cima, começa a provocar o povo
do lugar:
- Viva o meu
chapeu! Viva o Chapeu Velho.
Quinquim
Bigode foi o primeiro a repreendê-lo:
- Olha,
moço, o povo daqui não está gostando deste abuso, não. Se eu fosse o Senhor
caia fora antes que o caldo engrosse.
E o Cabaça,
cada vez mais provocativo:
- Que nada,
Sô! É Chapeu Velho mesmo. Chapeu Velho! Falei e repito.
Aí reuniram-se
uns desocupados que presenciavam o espetáculo e descansaram as mãos no lombo do
cachaceiro. Deixaram-no estatelado na poeira amarelada da via pública. Uns dez
minutos depois, o Pedro levanta-se, desconfiado e vai tomando o rumo da saída
da vila, sob o olhar de censura do povo do lugar. De repente retorna até o centro da praça,
sendo interpelado por um daqueles que o havia agredido:
- O quê que
é, sujeito! Voltou para apanhar mais? Não tomou vergonha?
E o Cabaça
humilde, subserviente e desculpativo:
- O Senhor
desculpa. Já tô indo embora. Só vim pegar minha Itupeva que ficou aqui.
Recolheu
o seu chapelinho velho e, a passos largos, sumiu na quebrada da rua adjacente.
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