quarta-feira, 1 de julho de 2015

A BARATA VOADORA




            Já estava escuro quando ela chegou. Noite quente... Abafada... De repente ei-la, surgida pelo vão da janela. A barata voadora, daquelas que aparecem principalmente em noites de verão, era enorme, com suas asas marrom-carameladas. Nojenta, asquerosa... Aterrissou atabalhoadamente no piso da sala, entre minha mulher e eu.
            - Mata, mata este bicho, depressa!
            Nem é preciso dizer que detesto esse inseto. Acho-o repugnante e sou incapaz de tocá-lo com as mãos. Pago caro para não ter de enfrentá-lo. Mas, sem outro recurso, saí à procura de armamento para combater a intrusa. Achei um chinelo, sob a cama. Armei-me e vim disposto à batalha mortal. Tão logo me aproximei, a barata girou cerca de noventa graus e postou-se de frente para mim. Não gostei daquela atitude. Numa investida de sua parte o bicho viria direto ao meu encontro. Minha mulher, agitada, gritava requerendo uma atitude mais positiva.
            - Calma! O combate a esse bicho requer estratégia de guerra. Não é de qualquer jeito que se investe contra uma barata. Ademais barata voadora. E desse porte!...
            Procurei posicionar-me melhor com um giro, agora de cento e oitenta graus, para atacá-la pela retaguarda. Vi que o bicho era versado na arte da guerra. Girou também, sobre o seu próprio eixo, mantendo-me à sua frente. Minha mulher gritava:
            - Mata!... Mata logo esse bicho nojento!...
            Recuei três ou quatro passos enquanto articulava outra forma de combate, sem me expor aos riscos de um contra-ataque.  Vi da porta da cozinha a arma de que necessitava: uma vassoura, encostada na pia da área. Armei-me do artefato bélico e procurei me posicionar para a investida final. Aproximei-me e vi, aterrorizado, quando a barata cresceu nas patas e entreabriu as asas, em posição de combate. Relutei... E aguardei à distância. Minha mulher continuava a gritar, requerendo urgência no desfecho da ação. Qual, o quê!... Sou prudente e precavido. Aproximei-me, com receio, e ergui a arma para o desenlace fatal. O inseto pressentiu o perigo e contra-atacou. Partiu em minha direção, em vôo de guerra. Mal deu tempo para uma agachada rápida e o inseto sobrepassou a minha cabeça. Em sequência, descreveu uma curva aberta pela esquerda, completou um semicírculo e tomou a direção de minha mulher, indo pousar numa mecha de seus cabelos.  Um grito... Um salto... Um safanão. A barata alçou vôo outra vez, ganhando o vão da janela por onde havia entrado, desaparecendo de vez na escuridão da noite. Minha respiração aliviada foi interrompida pela minha mulher que, arrebatando-me a vassoura das mãos, ameaçou debruçá-la nos meus costados, só não efetivando o seu intento porque, incontinenti, fechei-me no banheiro. De lá, pude ouvir a espinafração:
          - Palerma!... Marmota!... Incapaz de matar uma baratinha de nada!... Tanta estratégia de guerra... E o bicho foi embora!
            Pensei, comigo mesmo:
            - Ainda bem!...

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