A BARATA VOADORA
Já
estava escuro quando ela chegou. Noite quente... Abafada... De repente ei-la,
surgida pelo vão da janela. A barata voadora, daquelas que aparecem
principalmente em noites de verão, era enorme, com suas asas
marrom-carameladas. Nojenta, asquerosa... Aterrissou atabalhoadamente no piso
da sala, entre minha mulher e eu.
-
Mata, mata este bicho, depressa!
Nem
é preciso dizer que detesto esse inseto. Acho-o repugnante e sou incapaz de
tocá-lo com as mãos. Pago caro para não ter de enfrentá-lo. Mas, sem outro
recurso, saí à procura de armamento para combater a intrusa. Achei um chinelo,
sob a cama. Armei-me e vim disposto à batalha mortal. Tão logo me aproximei, a
barata girou cerca de noventa graus e postou-se de frente para mim. Não gostei
daquela atitude. Numa investida de sua parte o bicho viria direto ao meu
encontro. Minha mulher, agitada, gritava requerendo uma atitude mais positiva.
-
Calma! O combate a esse bicho requer estratégia de guerra. Não é de qualquer
jeito que se investe contra uma barata. Ademais barata voadora. E desse
porte!...
Procurei
posicionar-me melhor com um giro, agora de cento e oitenta graus, para atacá-la
pela retaguarda. Vi que o bicho era versado na arte da guerra. Girou também,
sobre o seu próprio eixo, mantendo-me à sua frente. Minha mulher gritava:
-
Mata!... Mata logo esse bicho nojento!...
Recuei
três ou quatro passos enquanto articulava outra forma de combate, sem me expor
aos riscos de um contra-ataque. Vi da
porta da cozinha a arma de que necessitava: uma vassoura, encostada na pia da
área. Armei-me do artefato bélico e procurei me posicionar para a investida
final. Aproximei-me e vi, aterrorizado, quando a barata cresceu nas patas e
entreabriu as asas, em posição de combate. Relutei... E aguardei à distância.
Minha mulher continuava a gritar, requerendo urgência no desfecho da ação.
Qual, o quê!... Sou prudente e precavido. Aproximei-me, com receio, e ergui a
arma para o desenlace fatal. O inseto pressentiu o perigo e contra-atacou.
Partiu em minha direção, em vôo de guerra. Mal deu tempo para uma agachada
rápida e o inseto sobrepassou a minha cabeça. Em sequência, descreveu uma curva
aberta pela esquerda, completou um semicírculo e tomou a direção de minha
mulher, indo pousar numa mecha de seus cabelos.
Um grito... Um salto... Um safanão. A barata alçou vôo outra vez,
ganhando o vão da janela por onde havia entrado, desaparecendo de vez na
escuridão da noite. Minha respiração aliviada foi interrompida pela minha
mulher que, arrebatando-me a vassoura das mãos, ameaçou debruçá-la nos meus
costados, só não efetivando o seu intento porque, incontinenti, fechei-me no
banheiro. De lá, pude ouvir a espinafração:
- Palerma!...
Marmota!... Incapaz de matar uma baratinha de nada!... Tanta estratégia de
guerra... E o bicho foi embora!
Pensei,
comigo mesmo:
-
Ainda bem!...

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