quarta-feira, 1 de julho de 2015

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     Riberildo Paçoca era sujeito de paz mas ficava enjoado quando errava a mão na cachaça. Naquela sexta-feira deixara o sitiozinho onde morava com a avó, Dona Marinalva, e viera à Vila dos Urubus vender uma meia quarta de feijão novo e levar outras precisões de que carecia lá na roça. 
     Como de seu costume, bebeu mais do que o devido e, no fim da tarde, acabou se envolvendo em confusão grossa lá na venda do Gervásio, que resultou num tirinho de vinte e dois dado por Tião Cambito que o levou desta para a pior. Alguns parentes e amigos recolheram o corpo e providenciaram tudo para o sepultamento. Houve velório durante toda a noite, regado a comes e bebes. Tudo em ordem, sem quaisquer contratempos. Faltava, porém, o pior: ninguém se dispunha a ir lá onde morava o defunto comunicar a sua desdita a Dona Marinalva. Já velha e sobrecarregada de mazelas, tinham todos receio de que não suportasse o baque. Além do mais, é tipo de notícia que ninguém gosta de repassar. Durante o velório, encontraram alguém disposto a se desincumbir da missão espinhosa: Custódio Serra a Baixo se prontificou. Era um sujeitinho daqueles que ninguém sabe de que vive, mas que ia levando a vida. Um recado para um, uma entrega para outro... Bebia sempre às custas de alguém e ia remando em águas mansas no lugar. Velório, então, era o que mais gostava: cachaça, tira-gosto, prosa... Isto é que era vida.
     Saiu bem cedinho e foi levar a notícia triste para a avó do Riberildo. A distância era razoável: cerca de duas léguas e meia. Lá pelas nove horas chega ao seu destino. Da beira da cerca grita pela Dona Marinalva que logo vem atender o seu chamado. Sem quaisquer preparativos dá a notícia indesejável:
   - Olha, Dona Marinalva, o Riberildo morreu ontem. Foi um tiro de vinte e dois. Vim cá trazer a notícia.
     A velha se descabelou, num choro incontido. Era o neto a única pessoa que ainda lhe restava no convívio familiar. Chorou... gritou... lamentou.
   - Ah, meu Deus. Não posso suportar esta tristeza, esta dor. Quero ir junto com ele! Quero ir junto com ele!
      E o Serra a Baixo, com sua praticidade simplória, disparou:
   - Anda depressa, então, Dona, porque eles já estão fechando o caixão.

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