quarta-feira, 1 de julho de 2015

QUESTÃO DE DESPERDÍCIO



         O sol foi perdendo a sustança até que, desapontado, escondeu-se atrás do recôncavo da montanha. De repente noitou.
         Indiferente à tonalidade do horizonte, a turma entornava copos rente ao balcão da venda do Porfírio. A conversa diversificava e cada assunto novo era puxado por aquele que falasse mais alto. No entremeio de duas falas, a novidade trazida pelo Zé Canhoto foi um entrevero havido no dia anterior.
         - Cês ficaram sabendo que deram uns tiros no Fininzinho? Foi lá pras bandas do Córrego Raso.
         - E mataram o infeliz – inquiriu alguém.
         - Nada. Erraram os dois tiros. Porqueira o tal de Pedro Cuia, da família dos Praxedes. É gente ruim feito carne de urubu. Não presta nem pra dar tiros.
         Manoel Raposa, o Raposão, grandalhão e espalhafatoso, interpelou com a sua voz de trovoada de fim de março:
         - Que diabo de desperdício, sô!... Gastar balas com Fininzinho!... Aquilo não vale uma bala. Além do mais, aquele nanico enguiçado, franzino como um grilo, não tem nem lugar, lá nele, onde acertar um tiro. Perda de dinheiro gastar balas com aquela muquiça!... Um manicaca, de pouco mais de trinta quilos... Ara!... Um piparote já basta para desmantelar aquela porqueira!
         O comentário se esparramou e três dias depois bateu nos ouvidos do Fininzinho que foi tirar satisfação com o Raposão. Acabou gastando com ele uma balinha calibre 22, miúda, miúda, como o próprio Fininzinho.

         Mais... Não foi preciso.

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