sábado, 18 de julho de 2015

APELIDO NÃO

            Arcebutino Pancácio trabalhava, juntamente com mais uns doze companheiros, na Serraria Cinco Estrelas, lá na cidadezinha de Embaúba das Gerais.  Pacato e risonho que era, nos últimos tempos passou a andar de cara amarrada, cabisbaixo, contrariado. Chegou, num fim de manhã, procurando o proprietário no barracão onde funcionava precariamente o escritório da empresa. Voz embargada, semblante triste, dirigiu-se ao Ganimedes, o proprietário, neste palavreado:
            - Olha, seu Ganimedes, vim aqui para pedir que me dispense. Não dá mais para trabalhar com estes colegas aqui na serraria.
            - Mas o que houve, Arcebutino, qual a razão de sua insatisfação?
            - É que não aturo que me chamem de apelido. E aqui ninguém me respeita. É Pancada pra aqui, Pancada pra lá.  Já reclamei, mas não adianta.
            O Ganimedes procurou minimizar o problema e prometeu conversar com os demais empregados, evitando que o Arcebutino, afinal um bom empregado, deixasse o emprego. Prometeu e cumpriu. Reuniu o grupo e pediu que deixassem o moço em paz. Se ele não gosta de apelido, era bom que houvesse respeito.
            Uns dez dias depois investe o Arcebutino outra vez no escritório do patrão.
            - Seu Ganimedes, quero sair mesmo do emprego. Essa turma aqui não respeita ninguém. Continuam me chamando pelo apelido. E isto eu não aceito.
            O patrão corre a mão pela barba rala do queixo e inquire:
            - Mas quem são os que ainda continuam a te chamar pelo apelido?

            - Olha, Seu Ganimedes, uns cinco ou seis. Mas os que mais me aborrecem são o Frango d’Água e o Boca de Caçapa.

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