APELIDO NÃO
Arcebutino
Pancácio trabalhava, juntamente com mais uns doze companheiros, na Serraria
Cinco Estrelas, lá na cidadezinha de Embaúba das Gerais. Pacato e risonho que era, nos últimos tempos
passou a andar de cara amarrada, cabisbaixo, contrariado. Chegou, num fim de
manhã, procurando o proprietário no barracão onde funcionava precariamente o
escritório da empresa. Voz embargada, semblante triste, dirigiu-se ao
Ganimedes, o proprietário, neste palavreado:
- Olha, seu
Ganimedes, vim aqui para pedir que me dispense. Não dá mais para trabalhar com
estes colegas aqui na serraria.
- Mas o que
houve, Arcebutino, qual a razão de sua insatisfação?
- É que não
aturo que me chamem de apelido. E aqui ninguém me respeita. É Pancada pra aqui,
Pancada pra lá. Já reclamei, mas não
adianta.
O Ganimedes procurou
minimizar o problema e prometeu conversar com os demais empregados, evitando
que o Arcebutino, afinal um bom empregado, deixasse o emprego. Prometeu e
cumpriu. Reuniu o grupo e pediu que deixassem o moço em paz. Se ele não gosta
de apelido, era bom que houvesse respeito.
Uns dez dias
depois investe o Arcebutino outra vez no escritório do patrão.
- Seu
Ganimedes, quero sair mesmo do emprego. Essa turma aqui não respeita ninguém.
Continuam me chamando pelo apelido. E isto eu não aceito.
O patrão
corre a mão pela barba rala do queixo e inquire:
- Mas quem são
os que ainda continuam a te chamar pelo apelido?
- Olha, Seu
Ganimedes, uns cinco ou seis. Mas os que mais me aborrecem são o Frango d’Água
e o Boca de Caçapa.
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