A PEDRA DO SONHO
Vivi
a minha infância naquela fazenda que mais tarde pertenceu ao meu tio
Lauro. Próxima à cidade e com bastante conforto
para a época, ali tive meus dias mais marcantes. Foi lá que folheei as
primeiras revistas, li os meus primeiros livros... Ouvi inúmeras histórias e sonhei
como um menino ingênuo sonha. Dali
trouxe meus conceitos de vida e as lembranças mais marcantes de uma
infância feliz. Ao lado de meus pais, de meus irmãos, da natureza e dos
animais, foi ali, naquele pedaço de chão, que sedimentei os meus princípios que
até hoje me conduzem pela estrada afora, sem que remorsos me persigam nas
curvas de meus caminhos.
Possivelmente,
se Deus quiser, chegarei são e salvo ao fim da vida.
Mas
nesta propriedade havia uma pedra. Não daquelas do Poeta Drumond. Esta era uma
pedra grande, que não me atravancava o caminho.
Incrustada na montanha, numa forma ovalada, só deixava transparecer o
que seria a sua metade, de uma maneira transversal, um pouco achatada na sua
parte mais elevada. Numa inclinação íngreme, deixava sobressair a sua calota superior. Ali é que
estava o mistério. Havia uma trinca que circundava aquela calota, num nível
horizontal, o que dava à nossa imaginação a perspectiva de que aquilo teria
sido propositalmente cortado, formando o que seria uma tampa. Na batida de pés,
o som ecoava rouco... Grave... Como se houvesse abaixo uma parte oca.
E
a nossa imaginação, de meus irmãos e minha, revoava ao passado sonhando como
num conto de fadas.
-
Quem sabe ali não haveria, escondidos, nalgum vão cavado, tesouros de
bandeirantes!
Sabíamos
que por ali tinham eles trafegado. E sonhávamos com esmeraldas, rubis,
diamantes, ouro... E tudo mais que hoje certamente seja a ruína do mundo.
Sempre
que visitávamos aquele lugar, revivíamos os nossos sonhos. Batíamos os pés na
pedra e ouvíamos o som da fortuna.
Adulteramos,
– seria talvez essa uma boa palavra para
quem se tornou adulto - e o sonho se diluiu no perpassar da vida. Ademais,
deixamos aquela fazenda e fomos residir na cidadezinha de Sabinópolis e daí divergimo-nos
para onde cada um de nós hoje vive.
A
pedra grande ficou lá, encerrando o seu mistério.
Mais
tarde, meu tio Lauro para lá se mudou. Já conhecia nossos sonhos. Dinamitando
pedreiras nas imediações para construção de uma casa na cidade, resolveu trazer
a limpo a interrogação que persistia no ar. Mandou abrir uma fenda na carapuça
da rocha, inseriu nela bananas de dinamite e mandou pelos ares nossos sonhos de
infância.
Não
havia ouro... Nem pedras... Nem fortuna.
Apenas a rocha mãe que abrigava nossas ilusões.
Passei
por lá tempos depois. Vi a laje desmoronada. Duas lágrimas, de sabor muito
antigo, rolaram-me pela face.

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