O COBRADOR
Pedrelino Grilo bebia suas cachaças na
venda de Zé Torresmo e, como de seu feitio, arrastava queixo contando vantagens
de brigas e desaforos que, segundo afirmava, nunca levava pra casa.
Nesse fim de
tarde, depois de uma ou duas, ainda sóbrio, foi-lhe proposto pelo vendeiro
dirigir-se até uma rua adjacente e cobrar umas contas de Zenóbio Praxedão que,
além de mau pagador, era também metido a bravo.
- Vai lá
Grilo, e vê se recebe essas contas pra mim. Aí estão os vales que ele assinou e
o total neste outro papel. Acho que você é o homem indicado para fazer essa
cobrança. Além do mais, ainda lhe molho a mão com algum para irrigar o seu fim
de semana na cachaça.
O Grilo
empinou a carcaça mirradinha e prontificou-se para a empreitada.
- Pode
deixar que daqui a pouco volto com o dinheiro.
Quebrou a
esquina próxima e dirigiu-se à casa do Zenóbio. Cerca de quinze minutos depois
volta ele, carcaça arqueada, cabisbaixo e relatou assim o ocorrido:
- Olha, Zé
Torresmo, o homem hoje andava atacado. Mal lhe falei nas contas ele me jogou na
cara uma dividazinha de vinte mirréis
que ele garantiu ter me emprestado há
anos atrás. Tive que escarafunchar meus
bolsos e apurei dezoito mirréis que, segundo ele, em dia de bondade deixava
ficar por aquilo mesmo. Não me jogou escada abaixo porque não esperei.
- Quer dizer
que ele não pagou o que me deve... Safado, caloteiro! E cadê as contas que você
levou?
O Grilo,
olhar baixo, envergonhado, resmungou:
- Aquela
peste fez eu comer os papéis todos, Zé Torresmo. Até aquele ferrim que vinha
prendendo um no outro.
Retirou-se
murcho como uma flor vencida e foi beber fiado na venda do Mané Bola.
Certamente para digerir os papéis e o clipe.
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